Podia ser segunda, quinta ou domingo: levantava-se da cama, já com um pouco de dores nas costas devido àquela idade nem tão avançada, calçava os chinelos e depois do ritual matinal de higiene, ia para o cômodo mais lúdico da casa.
Portava entre as mãos a fé mais indissolúvel que já presenciei e dentro de si todos os escritos do mundo. Cerrava os dentes e os olhos e mais um ponto de dedos que se cruzam: é pelas meninas.
Acho que deve ter sido sempre assim: de pouca fala e muita crença, sorri sempre mais fácil do que qualquer criança.
Mas os olhos de sênior já demonstram que nem tudo cai do céu e deve ser por isso que a oração vai daqui para lá.
E lá, envolto naquelas quatro paredes, que já abrigaram todos os sonhos e medos do mundo, todos os aromas doces e o deslizar do motorzinho da velha máquina de costura pesada e negra, ele se desfaz de todo o mal daquilo que chamam de gente.
E contraria previsões. E diz que vai dar certo. E diz para ficar tranquila. Diz que nos ama. E que está rezando por nós.E diz que tudo vai ficar bem. E diz que está bem.
E sorri sempre mais fácil com os olhos. Que brilham mesmo que a idade avança. Mesmo que a descrença um dia apareça.
É um homem de fé. Fé na ponta dos dedos: porque Deus é detalhe para poucos.
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