terça-feira, 11 de julho de 2017



Comecei a te escrever essa quarta quase dois dias depois da nossa última conversa. Eu, que sempre adepta de a mais recente, acho que talvez dessa vez não seja o caso, já que o acaso pode ter nos separado de vez. E talvez não seja como das outras vezes que a vida dá uma reviravolta e a gente se encontra na esquina, na soleira da porta, na porta do bar, com aquele sorriso e cumplicidade no olhar de como se fosse pela primeira vez. Talvez, pela primeira vez não vai ter próxima. Nem na próxima semana, nem no próximo mês, sequer no próximo ano. Talvez na próxima vida a gente não tenha miopia e se veja tanto de perto quanto de longe. Talvez a gente aprenda a ser nós de verdade e faça laços. Talvez também não vai ser nem na próxima vida. E por isso, pelo nunca ser e quase sempre acontecer, a gente nutra um sentimento bom e bonito: a ilusão tem disso. Eu ainda estou triste, magoada e de certo modo está faltando algo aqui dentro de mim: não vou falar que a falta seja a tua personificação, talvez seja só a falta de esperança porque de certo modo algo chegou no fim. Não sei ainda se nós ou os outros ao nosso redor. A essa altura tem mais do que a gente nessa estrada e algo além de mim cobra aquilo que eu preferia não ter que resolver. Talvez a gente não resolva e nem nunca se resolva. Vamos ser aquele sorriso que ficou guardado e aquela lembrança que bate vez em quando ou toda vez que mais alguém passar: eu deveria ter te amarrado aqui? E pesa a dor da inquietação aqui e alí porque sempre soubemos ou devêssemos saber que aquilo o que não decidimos, alguém vem e decide pela gente. Tu vais ser para sempre a referencia de algo especial e singelo, maior do que qualquer rótulo e mais doce do que qualquer um que já tenha existido ou vá existir. Não sei se teve timing, se faltou algo, se houve amor, se houve paixão. Mas eu sei que teve carinho, respeito e admiração que serão perpetuados para o resto da vida. Tu nunca serás só a minha lembrança da Copa de 2014, nem o brinde no sushi, tampouco aquele que me segurou pela cintura e enroscou a barba no meu pescoço. Vai ser também isso e toda a esperança que eu não perdi na humanidade e isso quer dizer muito, senão tudo. Quando eu não tenho vontade de ir para casa porque a pressa me prende e o sono não vem, tantas vezes foi em ti que eu prendi a respiração e aprendi a olhar o caminho porque por mais que as coisas sejam melhores, elas ainda não vieram. E por tantas vezes tento e tentei entender o porquê de andarmos em círculos, mas acho que em verdade nunca andamos. Rodopiamos, como se não existisse caminho para nós porque talvez, de fato, não exista. No fim de tudo isso, ainda o que sobra é muito. Por mais que as palavras não digam isso e quem quer mais, que não nós, ouvisse, discordaria, sem titubear, eu só posso ainda agradecer. Agradecer por tu teres surgido, por teres ido, por voltares. Porque em todas as vezes em que houve regresso, veio o carinho que alimentou o amor próprio. Em todas as idas, teve o episódio de mais um encontro aleatório que teve significado diferente e ainda assim especial. Obrigada por ter sido o braço e o abraço que me estendeu o novo, de novo. Obrigada por não ter sido só lençóis e por dividir sextas e sábados. Obrigada por sorrir diferente mesmo que nem sempre estivesse seguro do que sentisse. Obrigada por ter deixado eu ir, vir, voltar e ficar, ainda que solta.